Plantações têm perda total.
Agricultor Antônio Xenofonte perdeu plantios de feijão e milho na localidade de Ponta da Serra, no Crato. Está tentando replantio, mas prevê que o trabalho poderá ser em vão
ANTÔNIO VICELMO
O plantio de milho está murchando, por falta de água, nas áreas onde foi plantado na região Centro-Sul
HONÓRIO BARBOSA
11/3/2010
Avaliação preliminar de sindicalistas rurais no Cariri aponta prejuízos provocados pela seca verde na região
Crato. Perda total de plantações ou prejuízos acima de 50% nos cultivos de milho, feijão e pequenas culturas como jerimum e melancia são registrados por equipes dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais (STRs) na região do Cariri. Os sindicalistas estão visitando todos os plantios da região com o objetivo de elaborar um relatório com os índices de perda em cada lavoura. No município do Crato, três equipes foram deslocadas para o campo. O resultado conclusivo da avaliação será entregue nos escritórios da Ematerce que, por sua vez, está fazendo uma pesquisa quinzenal dos prejuízos causados pela falta de chuvas na região.
Estes relatórios serão entregues à Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), a quem cabe definir se a seca está caracterizada na região. A Ematerce prefere não se pronunciar sobre as informações colhidas. No entanto, os sindicalistas, com base no levantamento feito até agora, calculam que a perda é superior a 50%. Mesmo que chova de hoje para amanhã, eles não alteram esta avaliação. Em alguns municípios, como Brejo Santo e Porteiras, a perda é total.
A reportagem acompanhou uma das equipes aos distritos de Bela Vista e Ponta da Serra, no município do Crato. O quadro é triste. Em algumas roças, a perda é de 100%. O agricultor Cícero Ferreira da Silva, conhecido por "Cícero Pequeno", mostrou o plantio de feijão e milho totalmente perdido. O mesmo ocorreu com Cícero Nonato da Silva. Até os jerimuns e melancias murcharam com a falta de chuvas.
Na Ponta da Serra, o quadro é de cortar coração, define o sindicalista Deocleciano Ferreira da Silva, integrante da equipe de pesquisa. Ali, o agricultor Antônio Xenofonte de Souza já perdeu um plantio de feijão e milho. Está tentando salvar, pelo menos, a metade do segundo plantio. Mas o legume está morrendo. Ele esperava colher 30 sacos de feijão. "Talvez não colha um", lamenta.
A secretária de Políticas Agrícolas do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brejo Santo, Fabiana Novais, diz que, nos municípios de Brejo Santo e Porteiras a perda é total. "Aqui não houve safra", complementa. "Na cidade de Mauriti, maior produtor de milho da região, o prejuízo não tem tamanho. Aqui não se aproveita nada", diz a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Mauriti, Maria Aparecida Bernardo.
Em Santana do Cariri, município que apresenta maior índice de produtividade de milho do Cariri, 7 mil quilos por hectares, não tem safra. "Se chover de hoje para amanhã, pode ser que sobre alguma coisa do feijão", diz o secretário de Políticas Agrárias, Antônio Eudes do Nascimento. "O milho está perdido", reafirma ele.
O coordenador de Desenvolvimento da Agricultura Familiar da SDA, Itamar Lemos, já afirmou que a safra agrícola de 2010 já está prejudicada. "Os produtores do Cariri, área que responde por mais de 50% do plantio de milho, feijão e arroz, contabilizam prejuízos", disse. "Mas, de um modo geral, apenas 16% do total a ser cultivado foi plantado até agora".
Abaixo da média
A Funceme prevê precipitações 45% abaixo da média histórica, mas, se chover a partir da segunda quinzena de março, talvez viabilize uma safra razoável. Para Lemos, "esse fenômeno de aquecimento da temperatura das águas do Oceano Atlântico, não favorecendo o deslocamento da Zona de Convergência Intertropical que, somada à existência do El Niño, influencia no volume de chuvas no Estado. Diante deste cenário, estamos aconselhando os agricultores a aguardarem o início da plantação e observarem as orientações relacionadas à adubação como o uso de material orgânico".
No Cariri, a maioria dos agricultores não quer correr o risco de um segundo plantio. Grande parte das terras agricultáveis não foi ocupada porque as chuvas não foram suficientes para a germinação das sementes. Ao fazer esta observação, o secretário do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Crato, Zilcélio Ferreira, avalia que este quadro vai refletir negativamente nos benefícios do Seguro safra. De acordo com a nova orientação, quem não plantou não tem direito ao Seguro Safra, um programa que oferece uma renda mínima aos agricultores de base familiar que tenham perdido mais de 50% do seu plantio por excesso ou falta de chuvas.
No Crato, por exemplo, 2.800 agricultores participam do Seguro Safra. Cada um vai receber R$ 550,00, divididos em cinco parcelas de $$ 110,00. No caso de confirmação da perda acima de 50%, estes trabalhadores terão direito ao benefício. Alguns trabalhadores estão devolvendo a semente nos escritórios da Ematerce. O beneficiário da subvenção ao prêmio do seguro rural é o produtor rural, pessoa física ou jurídica, adimplente com a União, conforme disposto na legislação em vigor, que contrate seguro rural nas modalidades amparadas pela subvenção, conforme definido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Em municípios da Zona Norte, a situação também é de seca verde. A última chuva registrada em Sobral foi ainda no fim de janeiro. Existem outras cidades onde também não chove há mais de um mês.
As últimas precipitações melhores só foram observadas nos municípios da Serra da Meruoca. Apesar dos reservatórios estarem com a capacidade normal ou até acima da média, não está tendo água suficiente para sustentar as primeiras plantações na região Norte, nos cultivos que não são irrigados.
ENQUETE
Trabalho perdido
"Já perdi dois plantios de milho e feijão. Não dá mais para arriscar um terceiro plantio. As chuvas estão bem fracas"
Antonio Xenofonte de Souza
50 ANOS
Agricultor
"Perdi totalmente o plantio de milho. O feijão só dá para aproveitar 50%. Se chover, vou tentar plantar de novo"
Cícero Ferreira
52 ANOS
Agricultor
MAIS INFORMAÇÕES
Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Crato, Rua Pedro II, 62,
(88) 3523.1623; Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Mauriti: (88) 3552.1201
CENTRO-SUL
Falta de chuvas há um mês
Iguatu. Na região Centro-Sul, a falta de chuva vem provocando a perda das culturas de subsistência de milho, feijão e arroz. Não chove há cerca de um mês. Além da morte do plantio, a escassez de água para o abastecimento humano e animal começa a preocupar as autoridades locais. A demanda por carro-pipa cresceu nas duas últimas semanas. A tendência é que a situação se agrave.
Um dos municípios que enfrenta urgente necessidade de abastecimento por carro-pipa é Acopiara. Até dezembro passado, 5.334 pessoas eram atendidas em 96 localidades rurais por caminhão-pipa. O serviço foi suspenso. "De lá para cá, a situação só piorou porque não choveu", disse o secretário de Agricultura do município, Carlos Aragão. "Eram dez veículos, mas agora precisamos de 14 porque mais 3185 pessoas necessitam de abastecimento de água".
A seca severa que castiga o sertão cearense exige maior demanda por água. Municípios como Catarina e Mombaça estão também encaminhando para a Defesa Civil do Estado relação de suas necessidades e querem a imediata reativação da Operação Pipa. Em Icó, a Secretaria de Agricultura vai fazer, a partir da próxima segunda-feira, levantamento das comunidades rurais que estão necessitando de abastecimento de água.
Já em Limoeiro do Norte, choveu 201mm em janeiro, apenas 24,4mm em fevereiro, e nem uma gota d´água até ontem neste mês de março. Praticamente nenhum dos 1.660 produtores encontrou a hora boa para plantar. Com exceção de uma plantação em oito áreas de palma forrageira, que não necessita de muita umidade, toneladas de sementes de grãos continuam estocadas. Até o dia 22 todos os produtores terão recebido as sementes. De acordo com Antônio Deusimar Silva, secretário municipal da Agricultura, o solo continua sem umidade, mas não quer falar ainda na possibilidade de seca verde. "Temos disponibilizado 3.400 horas de trator, mas não deu para iniciar ainda o plantio".
Antônio Vicelmo
Repórter
(Matéria publicada dia 11/03/2010 no www.diariodonordeste.com.br, jornal ou site que como muitos outros não publica os comentários de seus leitores.)
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Sempre tivemos pós 1985, aventureiros na presidência da república que se iludem com tudo o que é de benefício aos grandes empresários internacionais e nacionais e quando se trata do povo brasileiro, eles não se dão ao luxo de sentirem um choque ou qualquer tipo de sentimento de piedade em relação ao social, tornando-se hipócritas e falsos moralistas. Porque é assim que são os governantes, frios, calculistas, hipócritas e falsos moralistas, isto por falta de caráter e personalidade vinda do berço, e quando tem o poder entre os dedos, ou seja, a máquina do dinheiro público sob seu domínio faz o que bem entendem e ainda são protegidos pelas Leis brasileiras que só serve para defender quem tem muito dinheiro, em sua maioria sonegado, isentando-os de cumprirem sentenças pelos seus crimes porque sempre ficando soltos e curtindo a vida numa boa à custa do suor do roubado povo brasileiro, isto enquanto a parcela pobre, miserável e carente da nação tem mesmo é que morrer de fome, viver na miséria, ficar pianinho e se roubar, este sim, vai para o tribunal ser julgado, condenado e jogado na prisão para cumprir pena, pena esta determinada pela corrupção endêmica que está no subconsciente dos políticos e da manipulada parcela através da mídia, da sociedade brasileira.
ResponderExcluirMas estejamos preparados para o pior, uma vez que, se extrai petróleo a 10, 15 ou 18 mil metros de profundidade e não se extrai água a 2,3 ou 4 mil metros de profundidade, isto sem levar em conta a canalização e dessalinização da água do mar para irrigar lavouras nas férteis terras nordestinas. São governos incompetentes após governos incompetentes e o povo na crônica miséria brasileira e haja importação de produtos básicos para a mesa do brasileiro.
ResponderExcluirAtitudes como esta por parte de todos os governos incompetentes que vieram pós ditadura militar e que se gabam com seus rostos cínicos dizendo que o País está bem economicamente, o que é fato, enquanto o social agoniza em vários aspectos, o que também é fato.
Tudo ótimo à custa do sofrido e massacrado povo brasileiro, onde a ignorância política faz parte de sua cultura, onde a falta de investimentos de peso e que possa trazer estabilidade econômica para o povo, simplesmente não existe porque faz parte da cultura de nossos empregados políticos que não estão nem aí para o social e só legislam em causa própria.
A reforma agrária tão necessária para a solução da fome no Brasil e possivelmente na América Latina está sepultada por interesses internacionais, apoiado por nossos presidentes e governos, isto porque no Brasil não existiu ou existe governo civil até o presente que ame e defenda com unhas e dentes sua Pátria, que ame o seu Povo e seja realmente um patriota nato, só existe fantoches do capital internacional, que adoram ser elogiados por experts no quesito economia, visando apenas passá-los para trás, nos mantendo no eterno terceiro mundo, só não enxerga este fato, um verdadeiro idiota e nosso País está abarrotado deles.
Não vejo nada de partir o coração em relação à falta de chuva no nordeste, vejo sim uma situação de partir o bolso do produtor e do consumidor e não estranho os sindicatos e cooperativas em não dá um só passo para que através de grandes mobilizações se cobre do governo em caráter emergencial a exploração dos lençóis freáticos com implantação de dessalinizadores onde for necessário, para que possamos ter cereais, frutas e verduras em nossas mesas a preços justos, praticamente de graça para o carente povo brasileiro. Atualmente no Brasil, sindicatos e cooperativas só visam lucro à custa do trabalhador brasileiro e usa estas entidades como trampolim político almejando câmaras, prefeituras, cargos no legislativo, ministérios ou empregos no vergonhoso primeiro escalão. Enquanto isto, nenhum projeto de extração de água salgada (existe dessalinizadores) ou não do subsolo nordestino – transposição do rio São Francisco é ilusão, existe no Brasil e em muito breve todos os produtos oriundos da terra estarão com preços exorbitantes o que favorecerá o colapso da sociedade e da economia, portanto ou se investe neste setor com responsabilidade e prudência ou estamos perdidos, isto em um País onde o que não falta é terra, água e pessoas querendo trabalhar.
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