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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Como vai o país que desafiou o FMI? Vai muito bem, com aplausos até do próprio FMI.


ÓTIMAS, da malásia 
Marcelo Manzano  (economista)
Fonte: Caros Amigos - Ano VI – Número 71 / Fevereiro de 2003
(sin permiso)

Mais uma vez volto à herética Malásia, tão pouco lembrada pelas vozes do mercado. Tempo atrás, aqui na Caros Amigos, contei a curiosa história deste tigre bravo que, desafiando o FMI e os mercados, baixou a cancela e a passou a controlar quem podia retirar dólares do país. Como comentei naquela ocasião, passado o susto inicial e arrefecidos os ânimos, o páis conseguie desvencilhar-se da cilada financeira em que havia se metido: fixou o valor do dólar em um patamar elevado (isto é, desvalorizou o câmbio), aumentou as exportações, baixou os juros, ampliou os gastos no setor público e, gradativamente, voltou a conceder passe livre a investidores externos que, ao contrario das profecias aborrecidas, mantiveram suas aplicações no país.
O PULO DO TIGRE
Indicadores selecionados da economia da Malásia em porcentagem e ano:
PIB (%) ..... -7,4 (1998), 7,9 (2000) e 3,5 (2002)                                            
Inflação anual (%)..... 5,1 (1998), 1,6 (2000) e 1,8 (2002)
Exportações (em US$ bilhões).....71,8 (1998), 98,4 (2000) e 93,3 (2002)
Reservas (US$ bilhões).....26,2 (1998), 29,9 (2000) e 34,6 (2002)
Até aí, nenhuma novidade. O que me traz de volta ao assunto foi  o fato de que, em dezembro último, o FMI tornou pública a sua mea-culpa (veja em http://www.imf.org/external/np/sec/pn/2002/pn02135.htm), assumindo que errou quando condenou a heterodoxia do primeiro ministro malaio Mahathir Mohamed. Em rara concessão à realidade, os analistas do FMI admitem agora que países com excessiva vulnerabilidade externa (dependentes da entrada líquida de dólares)  pode ser recomendável o controle de capitais e um câmbio desvalorizados como atalhos seguros para a redução das taxas de juros (que ficam desobrigadas de cumprir o papel de chamariz dos investidores externos) e, consequentemente, para a retomada do crescimento da economia.   
O sucesso da estratégia malaia é um importante marco cravado na arrogância financeira das políticas liberais. Para nós, em plena temporada de mudanças políticas *(época da ascensão do PT a presidência), acuados por um lado pelo timbre chantagista dos mercados e, de outro, pelo mar que é negro, é estimulante saber que há quem tenha ousado lançar-se às águas e sobrevivido com glória.
O novo governo, tendo de se equilibrar entre governabilidade e a sede por mudanças *(que foram por latrina abaixo, tornando-se o PT um partido leoliberalíssimo), parece impelido a ciscar o milho lançado pelos mercados, enquanto ganha horizonte econômico e fôlego político para mudanças de maior fulcro *(que não ocorreram em prol do social). Em princípio, como nos manuais de outrora, será sempre possível contrapor tática e estratégia. Contudo, aplicada à economia contemporânea, a velha fórmula da política pode ser demasiado arriscada.
Desde a década de 80. Com as transformações liberalizantes operadas nos sistemas financeiros ao redor do mundo e cm o surgimentos de fundos de investimentos responsáveis pela concentração e direcionamento de grandes fluxos de capitais em busca do máximo retorno no menor prazo possível, prevalece nos mercados uma tendência de que os interesses de curto prazo se sobreponham  aos interesses de longo prazo das empresas e dos governos (fenômeno batizado com a medonha expressão  de curtoprazismo). Como uma criança mimada, o mercado prefere sorvete a espinafre, indiferente às conseqüências negativas que esta opção traga ao organismo no futuro.
Ao se deixar pautar pela grita diária do mercado, mesmo que a título de tática, os governos correm o risco de se verem a ceder indefinidamente a novas táticas, distanciando-se cada vez mais de estratégias de mudanças econômicas e sociais.
É bom lembrar que, pelo mesmo vício de origem, Pedro Malan e Gustavo Franco tornaram o primeiro mandato tucano na esperança da consagração da estratégia: sobrevalorizaram o câmbio, promoveram a maior abertura comercial de nossa história, elevaram os juros, privatizaram o que puderam *(sem consulta popular, o que configura crime de lesa-pátria. Com os mentores ainda impunes), multiplicaram por dez a dívida pública e, antes de serem agraciados com os benfazejos capitais estrangeiros, foram atropelados pela crise asiática.
Infortúnio? Urucubaca? Ou destino de um governo ávido em acalentar o mercado e ser aceitos nos negócios de finanças globais? O sacrifício imposto naqueles anos (desemprego, desindustrialização, desestatização) não nos deu acesso à terra prometida. A tática nada tinha com a estratégia.
No mundo econômico, aliás, a história não registra êxito de economias periféricas que, abdicarem do instrumento de gestão macroeconômica (política fiscal, política monetária, política cambial), tenha conseguido sorrir no longo prazo. O capitalismo não é dado a largos períodos de bonança. Seus alicerces, para o mal ou para o bem, fundam-se na instabilidade, na destruição criadora, na especulação. Nesse ambiente, para sobreviver e prosperar, é vital que se tenha o maior grau de autonomia – interna e externa – da gestão macroeconômica. Foi o que fez\ a Malásia, no maior exemplo de “rebeldia” dos últimos anos, e para qual até o irredutível FMI se curva agora, não só reconhecendo o erro da condenação anterior, como, o que é mais importante, respaldando políticas econômicas “inimigas do mercado”, porém “amigas” do desenvolvimento daquele país.
(*) Observações atuais sobre os catastróficos governos do ex-partido de esquerda PT, atualmente neoliberal e corrupto até a medula, e outros partidos comparsas e também detrimentosos ao desenvolvimento sólido da nação brasileira, desde o fim da Ditadura Militar em 1984.

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