06/05/2011 - 12h22
Lembrança do massacre de Realengo dá o tom a lançamento da campanha do desarmamento
Daniel Milazzo
Especial para o UOL Notícias
No Rio de Janeiro
A dor das famílias que perderam parentes no massacre cometido no último dia 7 em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, foi lembrada pelas autoridades, nesta sexta-feira (6), no lançamento da campanha nacional do desarmamento, realizado na capital fluminense.
"A escola é um local de sonhos e futuro. É muito ruim ver um local como esse transformado no palco da tragédia que vimos", disse o prefeito do Rio, Eduardo Paes. A campanha do desarmamento já estava prevista para ser lançada este ano e foi antecipada após a matança ocorrida na escola municipal Tasso da Silveira, que chocou o Brasil. "A arma na mão de alguém não capacitado é sempre um risco e uma vida que será interrompida", declarou o governador do Rio, Sérgio Cabral.
Segundo dados do Ministério da Justiça, 80% dos homicídios registrados anualmente no Brasil são cometidos com armas de fogo legalmente comercializadas. O ministro José Eduardo Cardozo destacou que a campanha do desarmamento "coloca a nu a necessidade do debate sobre a cultura da violência". Em seu discurso, Cardozo também se solidarizou com as famílias das vítimas.
Pai da adolescente Ana Carolina, uma das 12 vítimas do massacre em Realengo, Raimundo Nazaré Freitas da Silva apóia a campanha. "Algumas armas que serão recolhidas poderiam ser usadas para matar alguém. Arma não adianta nada, só adianta para quem quer fazer besteira", disse. Ele e outros parentes de vítimas se reunirão com o ministro da Justiça e entregarão a ele um documento com propostas para melhorar a segurança nas escolas públicas de todo o país.
A campanha intitulada "Tire uma arma do futuro do Brasil" não possui como meta uma quantidade definida de armamentos a serem recolhidos. Nas duas últimas campanhas, uma entre 2004 e 2005 e outra entre 2008 e 2009, foi recolhido um total de 550 mil armas. Desta vez, de acordo com Cardozo, o Ministério da Justiça possui R$ 10 milhões destinados a indenizar aqueles que entregarem armas, que receberão valores entre R$ 100 e R$ 300, dependendo do tipo da arma. No entanto, não será oferecida recompensa às munições entregues. "Que Deus me ajude a ter que cortar outras ações do Ministério da Justiça para alocar mais de R$ 10 milhões", disse o ministro. Com a verba, o ministério poderá pagar por, no máximo, 100 mil armamentos.
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· A entrega poderá ser feita não apenas em postos policiais, mas também em locais credenciados, tais como ONGs, igrejas e associações maçônicas. A arma será destruída a marretadas no momento de seu recolhimento. Quem entregá-la não precisará se identificar. A campanha se estende até 31 de dezembro.
Controle das fronteiras
O ministro José Eduardo Cardozo aproveitou o lançamento da campanha também para dizer que o Brasil está investindo em um controle mais rigoroso de suas fronteiras. "O controle das fronteiras é fundamental para atacar o crime organizado e asfixiar organizações criminosas", afirmou.
Segundo ele, já estão em funcionamento dois gabinetes de gestão integrada da fronteira -- um no Mato Grosso do Sul, outro no Paraná e um terceiro será instalado no Rio Grande do Sul.
Contudo, o deputado estadual Zaqueu Teixeira (PT-RJ), vice-presidente da CPI das Armas na Assembléia Legislativa do Rio, salientou que o contrabando internacional não é a principal origem das armas que caem nas mãos de bandidos."A maior parte das armas ilegais são armas curtas que chegam na sociedade legalmente e acabam caindo na ilegalidade. É preciso diminuir essa fonte", defendeu.
Cardozo, por outro lado, admitiu que a questão não se restringe ao controle das fronteiras e preconizou uma cooperação maior entre as forças nacionais de segurança. "Quando você tem várias causas de um mal, tem que combater todas, no limite das suas possibilidades. Integração é a chave da segurança pública"
Plebiscito
Logo após a atrocidade de Realengo, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB), propôs que o país fizesse um novo plebiscito a respeito da permissão de posse e porte de armas de fogo por cidadãos comuns. O ministro Cardozo salientou nesta manhã que o governo federal não irá interferir na questão. "É uma discussão que tem, obviamente, ensejado polêmica, e o governo acatará aquilo que for decidido pelo Congresso Nacional", resumiu o ministro da Justiça.